Refrigerantes à base de cola e o impacto na formação de cálculos renais

Refrigerantes do tipo cola, como a Coca-Cola, embora contenham baixo valor calórico em sua versão tradicional (cerca de 90 kcal por lata de 350 ml), estão longe de ser opções inofensivas — especialmente para indivíduos com predisposição à formação de cálculos renais.

O maior problema não está nas calorias, mas na composição química da bebida, em especial no ácido fosfórico, um aditivo utilizado para dar sabor e conservar o produto. Essa substância, diferentemente do fósforo naturalmente presente em alimentos como carnes, leite ou ovos, é absorvida rapidamente e tem efeitos metabólicos mais agressivos.

O ácido fosfórico acidifica a urina, favorecendo a formação de cálculos de ácido úrico. Além disso, aumenta a excreção urinária de cálcio, um dos principais componentes dos cálculos de oxalato de cálcio — o tipo mais comum de pedra nos rins. Também pode reduzir a excreção de citrato, que é um inibidor natural da cristalização de sais no trato urinário. Em outras palavras, essa combinação favorece a supersaturação urinária e a precipitação de cristais, criando o ambiente ideal para a formação de pedras.

Além disso, o consumo habitual de refrigerantes como forma principal de hidratação prejudica a diluição urinária, que é um dos pilares na prevenção da nefrolitíase. A substituição da água por refrigerantes compromete diretamente o volume urinário, aumentando a concentração de sais na urina.

E a versão zero?

Engana-se quem acredita que as versões “zero açúcar” ou “diet” são alternativas seguras. Apesar de conterem poucas ou nenhuma caloria, essas bebidas mantêm o ácido fosfórico em sua fórmula, e ainda adicionam adoçantes artificiais como aspartame, acessulfame-K ou sucralose — substâncias que, em estudos observacionais, foram associadas a alterações do microbioma intestinal, disfunção endotelial e, em alguns casos, efeitos adversos sobre a função renal.

Portanto, mesmo com o apelo de “sem açúcar”, as colas zero continuam oferecendo risco potencial à saúde renal — e podem ser ainda piores, já que mascaram o impacto metabólico com a ilusão de serem mais “leves”.

Conclusão

Para indivíduos com histórico ou risco aumentado de cálculo renal, a recomendação é clara: evitar refrigerantes à base de cola, mesmo os com baixas calorias ou versões sem açúcar. A hidratação ideal deve ser feita com água, infusões leves e sucos naturais — especialmente os cítricos, que promovem a alcalinização da urina e aumentam os níveis de citrato urinário, contribuindo de forma ativa na prevenção da litíase renal.

Dr. Pedro Bastos é urologista em Juiz de Fora (CRM-MG 48089 | RQE 31390), com atuação focada em saúde do homem, cálculos renais e cirurgias minimamente invasivas. Publica conteúdos baseados em evidências para orientar pacientes e médicos sobre prevenção, diagnóstico e tratamentos modernos na urologia.

 

 

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